Deus e Eu


Fé, eu nunca soube muito bem o que era. Ouvia as pessoas falando, via o que a TV mostrava, mas nunca fiquei tão próximo de saber o que significava. Quer dizer, eu orava, aceitava as pessoas falando de Deus, eu só não entendia o que aquilo significava. Quer dizer que tinha alguém onipotente nos observando o tempo todo e iria nos castigar se fizéssemos a coisa errada? Eu era só uma criança pra saber o que era certo ou errado.

Mas, eu continuei desse jeito, até as coisas começarem a acontecer na minha vida, coisas que eu não sei se estou preparado pra admitir pra mim mesmo que aconteceram, quanto mais contar pra alguém. Então não fez muito sentido acreditar num ser superior. Porque se eu acreditasse, estaria admitindo que tinha alguém que poderia mudar meu sofrimento, mas ao invés disso ficava apenas assistindo enquanto pessoas más de verdade nem se sentiam mal pelo que faziam. Era uma filosofia de vida meio estranha, afinal, como eu iria explicar a criação de tudo o que existe nesse mundo?

E as pessoas não entendiam. Eu nunca fui bem recebido depois que “perdi minha fé”, nem na minha própria casa. E quando minha família virou evangélica, esse meu lado só ficou mais forte. Eles diziam que seguiam um Deus, mas não entendia porque seguiam alguém que poderia mandar alguém pro inferno apenas por gostar de alguém do mesmo sexo. Como podia acreditar que aquele Deus bom era o mesmo que mandaria pro inferno pessoas que foram boas a vida inteira só porque não conseguiam mostrar uma devoção maior que a dos evangélicos?

Boa parte disso me fez ficar revoltado, questionar tudo, cheguei até a procurar coisas na bíblia que poderiam provar que aquilo que estava escrito era apenas uma coisa idiota que estava num livro bobo. Porque era difícil... Muito difícil aceitar que esse Deus não me fazia ter paz, que não fizesse ninguém me amar, era difícil acreditar que ele estava mais preocupado com um bando de mulheres de meia idade e seus problemas superficiais quando ele deveria estar dando comida a toda aquelas crianças na África.

Porque eu sempre tentei me aproximar. Eu tentava, orava, pedia, mas nada acontecia, nada mudava, aquele vazio continuava, e era cruel começar a acreditar que eu tinha que ser como a minha mãe pra eu poder colocar um sorriso nos lábios e finalmente ser feliz. Porque eu sempre a vi como um monstro que tirou meu ultimo traço de inocência e fez eu me afastar da única coisa que talvez pudesse me fazer alcançar algo na vida: Deus. Eu teria que ser um monstro também? Acreditar que se eu não for pra uma igreja, participar de orações e deixar de ser quem eu sou eu mereço o sofrimento eterno mesmo nunca tendo cometido nenhum crime? Quem em sã consciência faria isso?

Eu não entendo, mas cansei de brigar. Só que isso me custou muito. Por bastante tempo eu não acreditei em Deus, me senti sozinho, sabem? Achei que me ajoelhar, fechar os olhos e contar meus problemas não iria resolver, porque nunca resolveu. E isso é foda porque acreditar em alguma coisa é o que deixa a gente dormir mais tranquilo à noite, e eu não tinha isso. Só o que eu tinha era um coração partido por um sentimento ridículo, uma família incompreensiva e capaz de cometer barbaridades se for em nome de Deus, e uma vida completamente vazia, porque se não havia Deus, não havia esperança.

Mas sempre que alguém me fazia chorar, ou que as coisas estivessem ruins de verdade, eu falava com alguém. Eu não sabia quem era, mas eu contava todos os meus problemas. Eu não conhecia, mas eu pedia pra mudar o que eu estava sentindo. Talvez fosse Deus, mas se não era, queria que fosse qualquer coisa que pudesse realmente me ajudar a superar todos os meus medos infantis e todas as coisas que eu só passo porque sou especialista em não seguir em frente.

Então me perguntei se era realmente isso o que eu queria. Viver uma vida achando que tudo vai dar errado, sem ter alguma coisa em que se apoiar além de um bom psicólogo e alguns remédios pra dormir. E a resposta foi não. Eu não quero viver assim, não posso viver assim, negando pra mim mesmo que no fundo do meu coração eu sei quem realmente pode me ajudar. E apesar de não ter ficado muito bem depois que resolvi acreditar em alguma coisa, eu continuo, mas, com várias limitações.

Ainda acredito que minha família é exagerada e hipócrita. Sei que é saudável acreditar em algo, mas não quando existe o exagero. Não acredito que alguém possa ser mandado pro inferno só porque ama uma pessoa do mesmo sexo, é ridículo, e injusto. É apenas amor, Deus, acima de todos, deveria saber disso, e não faz mal a ninguém, não machuca ninguém, é só amor, porra! E também tem outras coisas, como dízimo, eu não acredito que Deus vá abençoar mais alguém se a pessoa der dinheiro pra sua igreja, pra mim isso é querer comprar Deus.

Então, só me resta acreditar no que meu coração diz. E ele diz pra eu acreditar num ser onipotente, capaz de mudar minha vida, que me escuta e não vai me deixar ser essas merda de pessoa pro resto da vida, ou pelo menos, vai mudar a forma com que eu me vejo. E talvez, tenha algum plano pra mim. Tenha alguém guardado pra mim, ou qualquer coisa... Uma esperança, força de vontade, essas coisas que são esquecidas pela igreja já que eles lembram apenas da parte do pecado e tratam logo de julgar as pessoas. Eu nunca vou fazer isso, nunca vou julgar ninguém, vou ser sempre essa pessoa de mente aberta que vai respeitar o próximo mais do que respeita a si mesmo. E se isso não for seguir a Deus, eu não sei o que é.

Conclusão: Pode ser fé, eu não sei, só sei que é melhor que acreditar que nada vai mudar, ou simplesmente não acreditar em nada.

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L, é assim que vocês vão me chamar e é apenas isso que devem saber, além de um monólogo diário sobre a minha vida e a de quem me cerca todos os dias, tudo em completo anonimato, para não comprometer nenhum dos indivíduos que merecem ser comprometidos pelo fato de me comprometer também. Qualquer coisa, não me perguntem, ainda estou tentando descobrir quem eu sou.

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